ARTE BIZANTINA



Introdução



Chama-se Arte Bizantina aquela produzida na parte leste do antigo Império Romano. Constantinopla, sua capital, foi fundada em 330 d.C. e caiu sob o jugo do Império Turco em 1453 (marcando a passagem histórica da Idade Média para a Idade Moderna).

Entretanto, uma arte propriamente bizantina não começou exatamente quando da divisão do Império Romano em duas partes, tampouco acabou logo após a tomada de Constantinopla. Durante os primeiros anos do Império do leste, a arte podia ser considerada ainda romana, desenvolvendo-se com outras características posteriormente. Da mesma forma, os padrões artísticos do Império Bizantino puderam ser observados até aproximadamente o século XVI.
Além disso, outras povos que não pertenciam propriamente aos domínios do Império Bizantino assimilaram esses padrões, como os eslavos. Pode ser dividida em dois períodos distintos: a arte Bizantina dos primeiros tempos, que vai aproximadamente do século IV ao século VIII, e a arte bizantina mais tardia, que vai mais ou menos do século IX ao século XV. O ponto de ruptura entre esses dois modelos artísticos foi dado pela ação dos iconoclastas, que terminou em 843. No século VIII foi desencadeada uma luta contra a reprodução de imagens por Leão Isáurico (Leão II, 675 -741). Seus sucessores acabaram intensificando cada vez mais a luta contra os ícones, depredando com mosaicos, afrescos e perseguindo aqueles que cultuavam imagens. Eles acabaram por destruir grande parte da produção artística do primeiro período por motivos religiosos-filosóficos. Seu poder foi forte no Império até o século IX. A partir daí vemos o ressurgimento da arte bizantina com novas conquistas. A temática da arte Bizantina, de uma forma geral, é religiosa: eventos bíblicos, a vida dos santos. Era função do artista representar as crenças teológicas. Devido a forte importância das imagens, que funcionavam como verdadeiras pontes de contato entre o homem e o divino (ícones), os artistas deveriam seguir fielmente as tradições.
Qualquer inovação ou falha na representação de uma imagem com função tão importante poderia mesmo ser considerada como desrespeito à Igreja. Portanto, não era exigido do artista criatividade, originalidade, ou seu traço pessoal, sendo que pouquíssimos mestres bizantinos são conhecidos hoje. Mesmo quando a arte destinava-se a prestar homenagem ao Imperador, podia ser observado um fundo religioso, uma vez que, seguindo a tradição oriental, o Imperador era considerado como a emanação da figura divina na Terra. Um aspecto importante de toda essa observação na preservação das tradições foi a conseqüente preservação também de traços da arte grega e romana, um dos últimos redutos de sobrevivência desses padrões na Idade Média, antes da Europa passar a revalorizá-las durante o Renascimento. Diferenciava-se da arte clássica, por sua vez, principalmente na exaltação do divino e não do homem como faziam os antigos. Por essas características, percebe-se que era mais apropriada a arte em grande escala, para melhor exaltar o poder que deveriam representar. Os mosaicos talvez sejam os mais famosos trabalhos em arte do Império. Entretanto, também havia a arte realizada em pequenos objetos, como trabalhos têxteis, jóias, trabalhos em metais e principalmente a iluminação de manuscritos.



PRIMEIRO PERÍODO DA ARTE BIZANTINA


Nesse primeiro período, temos a figura do Imperador Justiniano, O Grande (527 - 565) como líder de uma das épocas de maior desenvolvimento da arte Bizantina. O Imperador era conhecido por patrocinar a atividade, além de sua força política e militar. A influência clássica era bastante nítida nos trabalhos do período. Entretanto, trata-se de uma época de difícil estudo uma vez que poucas obras sobreviveram. Uma das maiores obras de Justiniano foi a reconstrução da Igreja de Hagia Sophia. A Igreja, construída por Constantino, tinha sido destruída em 532 por facções políticas rivais. Isidorus de Miletus e Anthemius de Tralles eram os arquitetos responsáveis pela obra. A alta abóbada da igreja (55 m), com seus 33 m em diâmetros é uma das características mais marcantes do templo. Além disso, espacialmente podem ser notadas combinações de elementos das primeiras igrejas cristãs com elementos presentes nas construções de basílicas. A Basílica de São Apolinário em Classe, construída no século VI, é outra boa amostra de um templo bizantino, especialmente por conter em seu interior um belo mosaico, tipo de pintura que alcançou notável expressividade na Arte Bizantina. Mostra o santo em oração numa paisagem estilizada, algumas ovelhas, Moisés, Elias, uma cruz com a minúscula cabeça de Cristo na intersecção de seus dois lados e a Mão de Deus. O Mosaico foi decifrado como simbolizando a Transfiguração de Cristo.

Um dado interessante da arte Bizantina é ver um mesmo tema tratado de maneiras distintas nas várias regiões do Império. Isso acaba por provar que apesar do respeito às tradições, típico dessa arte, ela não se mostrava fechada às variações de estilos em suas diferentes regiões. A iluminação de manuscritos é a manifestação artística que permite uma boa observação da arte Bizantina, uma vez que muitos deles conseguiram chegar até nós. Tanto como no ocidente, essa atividade é bastante representativa da arte do Império Romano oriental na Idade Média. Apresentava muitas variações, que podem corresponder às diferentes localidades de origem desses manuscritos. Podem ser encontradas desde páginas inteiras ilustradas às iluminações somente no meio de um texto. As ilustrações de manuscritos gregos parecem terem sido as preferidas pelos artistas. Os retratos dos autores presentes nas obras também seguiam a tradição da arte grega. Um bom exemplo pode ser dado pela representação de São Marcos nos Evangelhos Rossano, pertencente à Catedral de Rossano, sul da Itália. Outro manuscrito grego ilustrado foi Gênesis de Viena, hoje na Biblioteca Nacional de Viena. Os textos são pequenos e as ilustrações pormenorizadas, podendo uma mesma iluminação apresentar mais de um evento, com a repetição de personagens. Conforme já foi dito, a ação dos iconoclastas acabou por destruir grande parte da arte bizantina. Entretanto, no reino da Imperatriz Irene (787 -813) e a partir de 843 (Imperatriz Theodora) pode ser observada a restauração do culto aos ícones e um novo período de ouro da arte Bizantina.




SEGUNDO PERÍODO DA ARTE BIZANTINA


Após 843, começa uma nova era de ouro da arte Bizantina, com a restauração dos ícones. O Império Bizantino de então já é bem menor do que aquele governado por Justiniano, devido a perda de territórios para os árabes ou para a dinastia Carolíngia. O termo Renascença Macedônia pode ser usado também para designar a arte do período, uma vez que ela continha inúmeras referências clássicas. A denominação também baseia-se no fato dessa época ser o começo de uma dinastia iniciada por Basil I (867 - 886), o Macedônio. Na arquitetura não houve nenhuma construção que superasse em esplendor a Hagia Sophia, uma vez que predominava nessa época construções mais modestas. Exemplos de construções desse período são a Nea (destruída) e as demais igrejas em formas de quincunce (uma abóbada central rodeada de quatro pequenas abóbadas), nas regiões de Salonika, por exemplo. A Igreja de San Marco, em Veneza, tem clara inspiração na arte bizantina da época de Justiniano, mostrando como esses valores estéticos acabaram por atingir o oeste. Com seus mosaicos e esculturas, influenciou a maneira como o ocidente assimilaria a arte do leste. A Catedral de Pisa, construída pelo arquiteto Busketos, que mistura elementos romanescos aos bizantinos, é outro bom exemplo da expansão da arte bizantina. Na pintura, os ícones são grandes destaques. De profunda importância religiosa para a cultura do Império, as representações de entidades divinas, em especial os vários santos, eram adorados tanto por poderem estabelecer a ligação entre o plano humano e o divino, como pelas figuras em si. Os mosaicos são outro importante meio decorativo usado na arte bizantina. Normalmente no interior de igrejas, possuíam rica simbologia, representando Cristo, a Virgem, a Criança, os profetas, os apóstolos, os santos. Havia ainda imagens mostrando as principais festas do ano litúrgico bizantino. A iluminação de manuscritos continua sendo atividade importante na arte do Império. De uma forma geral, temos várias amostras da arte bizantina dessa segunda época de ouro. No caso dos manuscritos isso é ainda mais verdadeiro, tendo sobrevivido vários deles. Aspectos da arte clássica costumam estar bastante ressaltados, como a referência à mitologia grega. Paris Psalter, de Psalms, que retrata episódios do Velho Testamento, é um bom exemplo desses manuscritos. Um dos últimos exemplos de pintura bizantina pode ser dado pela Kariye Camii em Chora, Igreja do Salvador . Realizada já no século XIV, mostra a resistência da Igreja Bizantina que, mesmo com as tentativas de destruição promovidas pelo papado e as cruzadas, ainda se mostrava vigorosa. Quanto às esculturas, não há muitos exemplos de esculturas monumentais, prevalecendo sua utilização na decoração arquitetônica ou esculturas em pequena escala, como altares portáteis. Acredita-se que a arte bizantina foi de fundamental importância para o início da Renascença Italiana, assimilada tanto pelo contato comercial com o país latino, como pelo espólio realizado pelas Cruzadas.


A arte bizantina já está formada plenamente no século VI. Na arquitetura utiliza-se o tijolo, cúpula sobre triângulos curvos; deslumbradora decoração de mosaico e pinturas.
Esculturas escassas, provavelmente não só pela perseguição iconoclasta. Grande interesse tem a lavra do marfim, Catedral de Maximiano Ravena, díptico das bodas de Nicomano, políptico Barberini.




Localização
Manisfestações artísticas
Cronologia
Área Geográfica
Arquitetura
Escultura
Pintura
Artes Decorativas
S. VI - XV d.C.
Império romano do
Oriente. Sua Capital
foi Constantinopla
(antiga Bizâncio).
Grandes espaços
abobadados nas
construções, cujos
exteriores são muito
sóbrios em contraste
com os interiores,
de grande riqueza
ornamental.
Santa Sofia em
Constantinopla.
Muito escassa.
Ausência de
imangens nos
templos.
Sua iconografia é
similar à do mosaico.
Terá uma grande 
influência na pintura
românica.
Mosaicos de grande
riqueza - utilização
de pão de ouro -, 
decoram os 
interiores dos templos.


Simbolismo Arquitetônico

Segundo René Guénon, toda construção religiosa possui uma significação cósmica. Este princípio se aplica sem dúvida alguma à arquitetura cristã em geral, e à bizantina em particular. Aqui chama a atenção na arquitetura bizantina, em especial, o significado místico que se encontra presente em um elemento específico: a cúpula. Esta, como podemos constatar, não é apenas um elemento arquitetônico decorativo, pois corresponde à concepções estéticas fundamentadas em um simbolismo preciso. A cúpula não possui seu sentido em si mesma, mas sim naquilo que representa: a abóbada celeste.
Entretanto seria errôneo estudá-la em separado, pois devemos considerá-la enquanto relacionada ao resto do edifício, com o fim de compreender o simbolismo cosmológico dessa arquitetura em toda a sua extensão. A cúpula representa o céu e sua base a terra, assim, o edifício completo representa uma imagem do cosmos.





Algumas considerações devem ser feitas, antes da análise simbólica propriamente dita. A arquitetura bizantina tem sua origem durante o reinado do imperador Justiniano. Muitos autores referem-se a esse período como "A Idade de Ouro Justiniana". Surge uma série de possibilidades técnicas visando às necessidades litúrgicas e formais que concorre para a criação de grandes obras de arte do cristianismo. No ano 532 devido à violenta insurreição de Nika, todo o esplendor clássico de Constantinopla da época de Constantino havia se tornado em ruínas. Nessa época, deixa de existir a cidade clássica, e graças aos esforços de Justiniano, começa a surgir a cidade bizantina.

Uma das novidades da arquitetura religiosa bizantina do século VI é a combinação das plantas basilical e central, cujo máximo expoente é, sem dúvida, Santa Sofia de Constantinopla.
O elemento principal e dominante é sua cúpula. Esta não é, entretanto, uma invenção bizantina. Sua origem remonta um longo passado, tanto no mediterrâneo oriental quanto no ocidental. Apesar de existirem construções cupuladas no oriente, desde vários milênios antes de Cristo, a exemplo das cúpulas da Mesopotâmia, ou mesmo as cúpulas ovulares de Khirokitia em Chipre, assim como também na arte helenística, é contudo em Roma, onde esta forma arquitetônica alcançará sua maior expressão.

Esquema da Igreja de Santa Sofia

Esquema da Igreja de Santa Sofia

Em efeito, os estudiosos coincidem em afirmar que os antecedentes diretos da arquitetura bizantina encontram-se em Roma, que havia incorporado conceitos arquitetônicos do oriente, mas desenvolvendo-os e adaptando-os a uma maneira ocidental, produzindo assim uma linguagem própria, iniciando a arquitetura bizantina.



Imagem da Igreja em 3D
Igreja de Santa Sofia

Segundo Sas-Zaloziecky, os principais elementos técnicos para essa arquitetura já existiam em Roma, e a Igreja de Santa Sofia, por exemplo, não apresenta nenhum aspecto arquitetônico que não possa ser encontrado em algum edifício romano. Sem dúvida, a construção mais característica e monumental por suas dimensões, é o Panteon de Agripa, primeira construção com cúpula autosuportante, que descansa sobre um tambor cilíndrico. Este templo se identifica com uma linha arquitetônica que prefere as abóbadas cilíndricas, ou com naves circulares, e grandes cúpulas, que, havendo herdado muitos elementos do Oriente, passou por transformações, tornando-se modelo para os edifícios paleocristãos e bizantinos.



Os arquitetos bizantinos mantiveram o formato arredondado não colocando o tambor (grande arco circular sobre o qual se assenta a cúpula) diretamente sobre a base quadrada. Em cada um de seus lados ergueram um arco, sobre os quatro arcos colocaram um tambor e, sobre este, com simplicidade e segurança, a cúpula. Os arquitetos bizantinos conseguiram opor a uma construção quadrada uma cúpula arredondada, com o uso do sistema de pendentes, "triângulos" curvilíneos formados dos intervalos entre os arcos e que constituíam a base sobre a qual era colocado o tambor.
A planta de eixo central, ou de cruz grega (quatro braços iguais), se impôs como conseqüência natural da utilização da cúpula. Os pesos e forças que se distribuíam por igual na cúpula, exigiam elementos de sustentação também distribuídos por igual, e essa disposição ocorria menos facilmente na planta retangular ou de cruz latina, com braços desiguais.
Os arquitetos orientais, da escola ocidental, herdaram os princípios da arquitetura romana dando-lhe um matiz inteiramente próprio, de acordo com suas próprias necessidades litúrgicas ou estéticas.
Os edifícios cupulados bizantinos podem ser divididos em três tipos:
1. Cúpula sobre plano circular, forma similar ao Panteon de Agripa
Cúpula sobre plano octogonal, como San Vitale en Ravenna, que é um desenvolvimento do terceiro tipo.
3. Cúpula sobre plano quadrado, solução que se pode encontrar já no século VI e que permanece até os nossos dias. A este último gênero pertence, por exemplo, a Catedral de Edessa.
Para passar desde a forma quadrada a circular, se utilizam quatro triângulos semi-esféricos que se situam em cada ângulo do cubo: são as conchas. Esta solução já era conhecida no Império Romano. Bizâncio, entretanto, não o copia servilmente, o assume criativamente como uma referência que irá moldar ao seu estilo particular.
A difusão desta solução que combina as plantas centrais cupulada e basilical no tempo e no espaço, demonstra o enorme êxito destas novas formas arquitetônicas. Em torno do mar Egeu, Grécia, Ásia Menor, Trácia e Armênia, se focalizará o primeiro grande núcleo desta difusão.



Durante a dinastia dos Comnenos (1057-1204) se introduzirá inovações que enriquecerão o estilo bizantino. Entre elas, podemos destacar, a redução do diâmetro das cúpulas, que ganham em altura e afinam sua silhueta. Enquanto isso, se multiplicam a quantidade de cúpulas em cada edifício. Mistra, no Peloponeso, construída entre os séculos XIII e XV, representa um particular desenvolvimento das formas arquitetônicas bizantinas, combinando a planta basilical com a central, a cúpula e a trichora. A Rússia se constituirá em outro ponto, que será fortemente influenciado por Bizâncio, desde sua conversão ao cristianismo em 988. A arte bizantina ganhou assim uma província a mais, cujos limites irão estender-se de forma inesperada. A primeira igreja russa, Santa Sofía de Kiev, levantada por arquitetos bizantinos, é, fundamentalmente, um cruzeiro com cúpula central e múltiplas naves, cada uma arrematada em uma abside.
Em todas as construções derivadas da arquitetura bizantina, além das inovações - ampliação das cúpulas, multiplicação destas e das naves, entre outras - é possível descobrir sua origem na combinação das plantas basilical e central. Assim a cúpula é sempre o elemento característico.
A igreja bizantina, está construída em função de seu interior. A chave para se compreender a arquitetura bizantina está no que se chama "a estética do sublime" em contraposição à "estética do belo", predominante no mundo clássico. Enquanto a primeira têm como objetivo comover a alma, a segunda aos sentidos; uma é interior, e a outra exterior. Ambas estão presentes na arquitetura bizantina, entretanto é a primeira concepção estética a que predomina.
Existe uma expressão exterior, material, do sublime, onde predomina a dimensão e com ela a evidência da força, e outra expressão mais interior, mais espiritual, onde dominam a profundidade e a qualidade da força. O Deus dos cristãos não é apenas força, é também amor infinito, e a morte de Cristo, sacrifício sublime, exige uma representação sublime. O contraste entre um exterior simples e austero, que não produz emoção estética alguma, e o interior surpreendentemente rico em ornamentação, ilustra essa concepção arquitetônica.

Não se trata, como no mundo clássico, de fazer a casa de Deus sobre o modelo da casa do homem, deve ser, ao contrário, um universo em miniatura, já que ali habita o Deus único. Segundo o patriarca Germá, "a igreja é o céu terrestre no qual o Deus superior habita e passeia. Isso significa que o templo é um lugar santo, independentemente da presença ou ausência dos fiéis, a presença de Deus habita ali". A "Domus Dei" é pois, uma imagem do cosmos, verdadeira morada do Deus onipresente e onipotente.
A contemplação desta arquitetura, entretanto, não deve se traduzir meramente em gozo estético, pois se trata de um gozo místico, da arte dirigida ao espírito, da alma do espectador que, iluminada, extasiada e leve, se eleva às alturas.

Esta noção é muito preciosa à arte bizantina, onde a beleza não é um fim como na arte clássica, senão um meio.
Através da beleza externa das imagens, se ocultam imagens e símbolos que o observador deve saber decifrar para ingressar totalmente em um universo superior. A arte se constitui em outras palavras, em via anagógica. Conforme afirmava o Pseudo Dionisio Areopagita, "a imagem sensível é uma via para elevar-se à contemplação do Insensível."


SIMBOLOGIA DAS CORES
Arte BizantinaAs cores são produto da composição da luz e tem na iconografia uma linguagem própria, são portadores de uma linguagem mística transcendente. Nos ícones, as cores são usadas pelo artísta para separar o céu de nossa experiência terrena. Aí está a beleza inefável que nos permite compreender a simbologia dos ícones.
Os pintores não podem usar livremente as cores, nem dar-lhes tonalidades diversas, como tão pouco podem obscurecê-las com sombras, pois devem seguir as cores que estão previamente determinadas. O segundo Concílio de Nicea estabeleceu que "somente o aspecto técnico da obra depende do pintor, todo seu plano, sua disposição depende dos santos padres". E é por isso que estabeleceram manuais para a execução das obras pictóricas. Essa concepção também explica porque os padres consideravam os pintores apenas como trabalhadores manuais, sem nenhum gênio ou criatividade do intelecto.
Em primeiro lugar, antes de falar sobre as cores das imagens, é necessário tratar da luz, pois, ao contrário, da pintura ocidental moderna e contemporânea onde a luz vem de um lugar específico, na pintura bizantina são as figuras que estão imersas na luz.

Arte Bizantina

O DOURADO

O homem, desde suas origens, tem admirado a luz dourada do sol, presumindo que esta provinha da divindade, pois na natureza não é possível facilmente encontrar essa cor. Nos ícones, todos os fundos estão cobertos desta cor, o que se consegue aplicando folhas de ouro, que são polidas até alcançar o máximo brilho. Na iconografia bizantina representa a luz de Deus e, por isso, qualquer figura representada dessa forma, está repleta da luz divina. É presente nos mantos e túnicas, nas representações de Jesus, Maria, e, também, as vestes de alguns arcanjos e santos, elaboradas em cor dourada para indicar a proximidade dos personagens em relação a Deus.

O BRANCO

O branco não é propriamente uma cor, e sim a soma de todas as cores, é a própria luz. É a cor da "Nova Vida". Em um ícone retratando a ressurreição, a túnica de Cristo é dessa cor. Os primeiros cristãos ao batizar-se usavam vestiduras brancas como símbolo de seu novo nascimento, de uma nova vida trascendente.

O NEGRO

É a contra parte do branco, pois indica ausência total de luz, a ausência total de cor. O negro representa o nada, o caos, a morte, pois sem luz não há vida. Nos ícones, esta cor aparece nas figuras de condenados e demônios e em representações do "Juízo Final", pois para eles a vida eterna se extinguiu.

O VERMELHO

Esta cor foi amplamente utilizada pelos iconógrafos nos mantos e túnicas de Cristo e dos mártires. Simboliza o sangue do sacrifício, assim como também o amor, pois o amor é a causa principal do sacrifício. Ao contrário do branco, que significa o intangível, o vermelho é a cor que representa o humano; relacionada portanto à plenitude da vida terrena. Na iconografia Jesus veste uma túnica vermelha pois é o "Filho do Homem" preparado para o sacrifício.

O PÚRPURA

Este corante, extraído de um crustáceo do Mar Vermelho, era utilizado para tingir as mais finas sedas. A partir do "Código Justiniano" seu uso ficou reservado ao imperador, seus familiares mais próximos, os "augustos", para alguns outros reis. Portanto, nos ícones essa cor se fez representativa do poder imperial. É utilizado unicamente nos mantos e túnicas do Pantocrátor, e da Virgem o Teothokos, representando que Cristo (e por extensão sua Mãe) detêm o poder divino. Como Cristo é também o Sumo Sacerdote da Igreja, simboliza também o sacerdócio.

O AZUL

Arte BizantinaTodas as antigas culturas fizeram do azul uma cor relacionada com a divindade. Os egípcios a ligaram à verdade, portanto com os deuses. Nas paredes de suas tumbas e templos pode-se observar pinturas de sacerdotes nessa cor. A máscara funerária de Tutankhamon está decorada com franjas de lapislázuli, para que assim fosse identificado como um dos deuses.
É natural que em Bizâncio fosse estabelecida como a cor própria de Deus e das pessoas para as quais transmite a sua santidade.
Michel Quenot, em sua obra "O Icone" declara: "o azul oferece uma transparência que se verifica através da água, do ar e do cristal. O olhar penetra até o infinito e chega a Deus".

O VERDE

É a cor ressultante da combinação do azul e do amarelo. O verde é a cor da natureza, a cor da vida sobre a terra, do renascimento e da chegada da primavera.

A iconografia lhe outorga um significado de renovação espiritual. Nos ícones há vários exemplos de sua utilização: as túnicas e mantos dos profetas, a túnica de São João Batista, etc, pois foram eles que anunciaram a vinda de Cristo.

O MARROM


Arte Bizantina
Esta cor é também produto da combinação de vários outras como o vermelho, o azul, o branco e o negro. É a cor da terra. Portanto, na iconografia essa cor aparece no rosto de diversas figuras para recordar que "vieste do pó e ao pó retornarás".
Significa também humildade, pois esta palavra vem do latim "humus", que significa terra. É por esse motivo que o hábito dos monges tem essa cor.
Ouro, branco, negro, vermelho, púrpura, azul, verde e marrom são as únicas cores que podem ser usadas na pintura dos ícones. O uso de outras combinações de cores estava fora de toda regra iconográfica, pois não contém nenhuma simbologia.

A FIGURA HUMANA

A partir da Grécia clássica, a arte ocidental pretendeu exaltar a beleza da figura humana. Na Atenas de Péricles, para a elaboração das obras de escultura, eram escolhidos os modelos que eram arquétipos da beleza e perfeição anatômicas, para, dessa forma, estabelecer as proporções perfeitas para cada parte do corpo humano. O Renascimento retomaria depois os ideais da estética grega.
A pintura de tradição bizantina difere radicalmente desse conceito, que se baseia na beleza física. Nos ícones a figura humana apresenta uma carência total de realismo, pretendendo antes de tudo transmitir uma mensagem espiritual através dessas pinturas, posto que a beleza interior tem primazia sobre a estética, pois o ícone pretende somente cumprir com sua função evangélica.

A CABEÇA HUMANA

Nos ícones, a cabeça não mantém nenhuma proporção com o resto do corpo, pois nela reside a inteligência e a sabedoria, assim também é a receptora das luzes de Deus.
A cabeça feminina sempre é representada coberta por um manto ou algum outro toucador, ocultando completamente os cabelos.
Em ícones do Menino Jesus e de alguns santos, como São Nicolas e São Basílio, suas cabeças são representadas em tamanho muito maior em relação ao corpo, significando serem detentores de uma inteligência superior inspirada pelo Espírito Santo.
As cabeças de Cristo, da Virgem (Teothokos), anjos e santos se encontram sempre rodeadas de um "nimbo", uma auréola geralmente dourada, que representa a "Luz de Deus".

O ROSTO

O rostro das imagens é o centro espiritual do ícone. Estes rostos são representados quase sempre frontalmente, pois a frontalidade significa presença e dessa maneira tem um contato direto em relação a quem observa. Se encontram sempre em atitude de oração, já que seu pensamento está posto no altíssimo e parecem igualmente estar interrogando permanentemente quem se aproxima.
Algumas vezes os rostos se encontram em uma posição de "três quartos", quer dizer, se dirige até o centro do motivo principal do ícone. Entretanto, sua vista permanece voltada para frente. Este é o caso de alguns ícones representando a Virgem, cuja cabeça está direcionada para o menino Jesus, mas seu olhar está voltado àqueles que o observam. Outro ícone com essas características é São Lucas em seu estúdio de pintor. Sua cabeça está voltada para seu trabalho, mas seu olhar está direcionado à frente. Estas disposições foram expressamente fixadas pelo "Manual Herminio", que atualmente se encontra resguardado em algum monastério, no Monte Athos.
Alguns rostos são representados de perfil e sua explicação iconográfica seria a de que os personagens representados não alcançaram a santidade. Um exemplo disso é o chamado ícone da "Natividade", em que os rostos dos pastores adotam essa posição.
A iconografía rechaça terminantemente pintar-se a parte posterior do rosto, isto é, a nuca. Na Grécia Clássica, chamavam os escravos de "aprosopos", que significa "os sem rosto". Em um ícone de São João Batista se pode ver sua cabeça arrancada do próprio corpo, mas seu rosto é perfeitamente visível.
Esta simbologia se baseia em um versículo do Evangelho de São Lucas que diz "aquele que por a mão no arado e olhar para trás não é digno do Reino de Deus".
Muito se falou acerca da repetição de modelos de rostos nos ícones, que tem quase o mesmo feitio. A explicação para isso se dá sem nenhum demérito, pois significa que uma vez que o homem passa a ser "o homem novo" de que fala São Paulo, e que recebeu a Graça Divina, para os olhos de Deus não existe diferença alguma entre seus filhos.


O termo arte bizantina refere-se à expressão artística de carácter religioso dos primórdios do cristianismo no Império Bizantino.

Por volta do século IV, com a invasão dos povos bárbaros ao longo do Império romano, o imperador Constantino I transfere a capital do império para Bizâncio, antiga cidade grega renomeada mais tarde para Constantinopla. Neste local reúnem-se toda uma série de factores que impulsionam a ascensão da nova expressão artística.
O movimento vive o seu apogeu no século VI, durante o reinado do Imperador Justiniano I ao qual se sucede um período de crise denominado Iconoclastia e que consiste na destruição de qualquer imagem santa devido ao conflito político entre os imperadores e o clero.
A arte bizantina não se extingue, no entanto, quando da queda do Império romano do ocidente em 1453, e permanece ainda nas regiões onde floresce a ortodoxia grega, estendendo-se à segunda metade do século XV e grande parte do século XVI. Este movimento chega mesmo a atravessar os limites territoriais do império bizantino, incluindo, por exemplo, os países eslavos.

INFLUÊNCIAS

A localização de Constantinopla permite à arte bizantina a absorção de influências vindas de Roma, da Grécia e do Oriente e a interligação de alguns destes diversos elementos culturais num momento de impulso à formação de um estilo repleto de técnica e cor.
A arte bizantina está intimamente relacionada com a religião, obedecendo a um clero fortalecido que possui, além das suas funções naturais, as funções de organizar também as artes, e que consequentemente relega os artistas ao papel de meros executores.
Também o imperador, assente num regime teocrático, possui poderes administrativos e espirituais. Sendo o representante de Deus na Terra, é convencionalmente representado com uma auréola sobre a cabeça e não é raro encontrar um mosaico onde esteja representado com a esposa ao lado da Virgem Maria e o Menino Jesus.

MOSAICO

O mosaico é a expressão máxima da arte bizantina e, não se destinando somente a decorar as paredes e abóbadas, serve também de fonte de instrução e guia espiritual aos fiéis, mostrando-lhes cenas da vida de Cristo, dos profetas e dos vários imperadores. Plasticamente, o mosaico bizantino não se assemelha aos mosaicos romanos; são confeccionados com técnicas diferentes e seguem convenções que regem também os afrescos. Neles, por exemplo, as pessoas são representadas de frente e verticalizadas para criar certa espiritualidade; a perspectiva e o volume são ignorados e o dourado é utilizado em abundância, pela sua associação a um dos maiores bens materiais: o ouro.

ARQUITECTURA

A expressão artística do período influenciou também a arquitectura das igrejas. Elas eram planeadas sobre uma base circular, octogonal ou quadrada rematada por diversas cúpulas, criando-se edifícios de grandes dimensões, espaçosos e profusamente decorados.
A Catedral de Santa Sofia é um dos grandes triunfos da técnica bizantina. Projectada pelos arquitectos Antêmio de Tralles e Isidoro de Mileto, ela possui uma cúpula de 55 metros apoiada em quatro arcos plenos. Esta técnica permite uma cúpula extremamente elevada a ponto de sugerir, por associação à abóbada celeste, sentimentos de universalidade e poder absoluto. Apresenta pinturas nas paredes, colunas com capitel ricamente decorado com mosaicos e chão de mármore polido.

ESCULTURA

Este gosto pela decoração, aliado à aversão do cristianismo pela representação escultórica de imagens (por lembrar o paganismo romano), faz diminuir o gosto pela forma e consequentemente o destaque da escultura durante este período. Os poucos exemplos que se encontram são baixos-relevos inseridos na decoração dos monumentos.


Bibliografia:

portalsaofrancisco.com.br
coladaweb.com
wikipedia.org
fehet.blogspot.com